Eu sou inviável

(crônica de Manoel Carlos Karam gravada no CD Respiro de Michelle Pucci)

“Eu sou inviável.
Que abertura, né mesmo?
Eu sou inviável.
Como é que chamam isso?
Impactante.
Descobri a palavra outro dia.
Ela resolve tudo, basta dizer impactante que está dito, não são necessários estudos, 
análise ou qualquer outro esforço, impactante diz tudo.
Encontrei uma abertura impactante.
Eu sou inviável.
Claro que só escrever é fácil, mas dizer isso numa roda implica 
em alguns conhecimentos de teatro, encontrar o tom exato, saber o que fazer com os braços, 
revirar ou não os olhos?
A abertura do monólogo: eu sou inviável.
No meio do caminho entre a frase escrita e a teatral, a frase radiofônica.
O ouvinte não sabe o que fiz com os braços ou se revirei os olhos quando disse:
Eu sou inviável.
Resumindo: eu sou inviável.
É a frase do começo, ficam faltando o meio e o fim.
Mas eu não tenho nem o meio nem o fim, tenho apenas o começo
Porque eu sou inviável.”